O 9º Congresso das Comunicações – The Internet is the foundation of a new industrial order


Um dia resolvi ir mais um amigo ao 9º Congresso das Comunicações, que se realizou em Novembro de 1999 no Parque das Nações. Acabou por ser uma surpresa muito agradável, um exemplo de organização. De facto, eram muitos os oradores, muitos e bons na sua área, muitos temas propostos, muita gente inscrita. Todos nós ,os presentes, estávamos sedentos de informação, até porque era isso mesmo que nos tinha levado ao Parque das Nações -INFORMAÇÃO.
A sociedade europeia sempre teve um papel primordial no desenrolar da história mundial, tanto ao nível social , como no cultural, ou no económico. A Revolução Digital que está a tomar forma nos nossos dias , obrigou a sociedade europeia a transformar-se, resta saber em que moldes.
Tentando fazer uma análise económica da Revolução em curso, os oradores convidados do Congresso opinaram que a Revolução Digital não pode ser uma mera construção no interior da Europa, pois nesse caso será, indubitavelmente um produto falhado. Terá de ser um produto vanguardista, ou seja, a Revolução Digital só funciona se for global.
É necessário um novo “modelo económico” para a era da Revolução Digital, correspondente a uma “economia de procura” (e não a uma “economia de oferta”), pois tudo começa e acaba na identificação (do negócio) e não na maximização de receitas.
A economia de rede nem sempre é benéfica, ou pelo menos, tem alguns aspectos que requerem uma melhoria do rendimento, como por exemplo o fluxo de informação. Este fluxo de informação nem sempre é um fenómeno positivo, pois pode gerar um outro fenómeno que é o dos custos crescentes da economia de rede.
Ainda que não directamente relacionado com a Economia, o sector da Educação é preponderante neste processo, uma vez que é um sector a ser urgentemente reformado. A aprendizagem deve ser rápida e eficaz, sendo que a este respeito disse o Prof. Amado que ” o interface entre as novas tecnologias e as pessoas é a escola”. É necessário criar condições para que haja um encontro sistemático entre a família ,o Estado, e a tecnologia , e para isso é necessário reformar as infra-estruturas do Estado.
Mas voltando novamente às questões de tendência mais económica da Revolução Digital, um elemento fundamental para o seu sucesso é sem dúvida a sua liberalização.
A liberalização do sector das telecomunicações vai com certeza gerar um grande impacto na economia, resta saber se será forte ou fraco (é necessário ter em conta a dimensão do mercado português).
É bom começar por referir que a liberalização das telecomunicações contém vários obstáculos, quer ao nível operacional , quer ao nível jurídico. Começando por este último, a atribuição de licenças UMTS(1) (3ª geração de telemóveis) vai ser de importância fulcral para o sector, sendo público que apenas quatro instituições vão poder operar nesta norma . Mas principalmente ao nível operacional, a viabilização do serviço fixo móvel, a portatabilidade dos números de telefone, e a existência de redes alternativas (que impossibilitem boicotar o acesso a essas mesmas infra-estruturas), são medidas essenciais para o sucesso da operação.
De facto, a liberalização está incompleta, e a partir de Julho de 2000 há dois “contratos” diferentes, o da Portugal Telecom e o dos outros , o que vicia à partida o “jogo”.
Há fundamentalmente quatro pedras estruturantes da Revolução Digital.
A primeira é o Factor humano, que terá de ser mais qualificado, que trabalhe em espírito de equipa e que pratique a cultura do serviço e do cliente.
A Segunda é a Mobilidade, necessariamente diferente da actual, ou seja, mais velocidade e melhores plataformas (IP)(2), optimização da harmonização de normas, e finalmente, a existência de uma boa/veloz integração de voz/dados.
A terceira pedra estruturante, e neste caso, tendo em conta uma visão estritamente portuguesa, é a Deslocalização. Para que o sucesso atinja as empresas lusitanas, estas terão de realizar investimentos em mercados onde a língua portuguesa e as comunidades portuguesas estejam presentes.
Finalmente, a quarta pedra que vai completar o puzzle, é o inevitável surgimento de Comunidades virtuais. Este segmento de mercado é o futuro do comércio a nível mundial, quem não o explorar arrisca-se à extinção.
Prevê-se que nos últimos anos tenham sido realizados investimentos na área das telecomunicações, da ordem dos 400 milhões de contos. Será que este investimento irá ter retorno? Provavelmente não. Os especialistas dizem-nos que dentro de dois ou três anos irá dar-se o “checkout”.
E será que mesmo assim Portugal vai ser competitivo na era da Sociedade da Informação/Pós-Revolução Digital?
A competitividade portuguesa na era da Sociedade da Informação vai ser uma incógnita . Tudo irá depender da política de telecomunicações, dos incentivos fiscais, da política educativa que o Governo empreender.
A capacidade empresarial e de gestão, os investimentos estrangeiros , a auto-formação dos portugueses também são factores importantíssimos para a competitividade portuguesa na área das telecomunicações.
Por sua vez, para que a política de telecomunicações seja adequada , é necessário que o Governo regule com visão conjuntural a área das telecomunicações, que o Instituto das Comunicações de Portugal possua capacidade de fiscalização de uma concorrência justa, da criação de ADSL(3), e dos custos de interligação e circuitos e da estimulação da criação de redes.
Tanto o Governo como o ICP têm responsabilidades acrescidas neste processo. A tendência actual das instâncias é regular as telecomunicações no sentido de limitar ao máximo os monopólios e criar condições para uma liberalização total do sector. Esta regulamentação deve ser coerente, consistente, transparente, permanentemente actualizada, objectiva e a mínima necessária.
Finalmente , temos os consumidores, aqueles para onde todo este processo burocrático e empresarial está apontado. O consumidor deve estar bem informado e principalmente, protegido pela lei.



(1) Universal Mobile Telecommunications System
(2) Internet Protocol
(3) Asymmetric Digital Subscriber Line


Por Alexandre Guerreiro

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